José Antonio Basto
Por que Castro Alves
foi um poeta sempre jovem? Porque não envelheceu jamais. Morreu muito novo aos
vinte e quatro anos de idade, nascido em 1847, na Fazenda Cabaceiras distrito
de Curralinho na caatinga baiana, foi marcado pelo romantismo e pelos cacoetes
do romantismo, dono de uma poesia jovem, quase juvenil -, liricamente juvenil e
entusiasticamente jovem, é o que se ver em “Espumas Flutuantes”, sua
única obra publicada em vida.
O adolescente Castro
Alves começou sua primeira experiência poética ainda quando estudava no antigo
Ginásio Baiano em Salvador, um poema que retrata bem esse entusiasmo juvenil da
época é “O laço de fita”-, escrito
quando ele tinha apenas quinze anos: “Não
sabes, criança? Estou louco de amores.../ Prendi meus afetos, formosa pepita./
Mas onde? No tempo, no espaço, nas névoas? / Não rias, prendi-me num laço de
fita”.
Os devaneios precoces
estão intimamente ligados ao sentimento amoroso e aventureiro, o amor que
invade o pensamento é maior do que qualquer coisa, podendo até então usufruir
de exageros explícitos, como a simples loucura e a morte.
A poesia
infanto-juvenil de Castro Alves diferencia-se de outras produções pelo fato de
que sua juventude foi grifada por fatos que marcaram sua vida: a morte da mãe
vítima de tuberculose, a loucura do irmão, a mudança da família do sertão
baiano para a capital Salvador foram fatos que fizeram reviravoltas no álbum do
artista.
Castro Alves talvez
não descendesse de uma linhagem de poetas, mas a vocação falou mais alto quando
era ainda pré-adolescente. O jovem trovador se revelava um romântico por
vocação, ao mesmo tempo, aquele que seria o futuro poeta dos escravos se
dedicou e trabalhou extraordinariamente a favor da raça escravizada, tendo como
experiência os tempos que passara na fazenda do pai e do avô materno.
Seu primeiro poema
publicado na imprensa “Canção do
Africano” -, demonstra a capacidade de um adolescente que dedicaria toda
sua vida contra a escravidão negra no Brasil. Castro Alves não viu a libertação
dos escravos em 13 de Maio de 1888,
mas, diga-se de passagem, que foi o abolicionista de maior valor nessa
militância que se concretizou na liberdade dos negros e o anúncio da república
que veio logo mais em 1889.
Quando viajou para
São Paulo realizou-se com aquilo que queria fazer de verdade: a boemia com os
colegas de universidade, Rui Borbosa, Joaquim Nabuco e o professor José
Bonifácio; num tempo quando ninguém falava de abolição da escravatura no
Brasil, em seus poemas já tratava disso ou pelo menos nesta direção. Uma luta
que começou na Bahia e foi para o Rio de Janeiro e também para São Paulo, a
lírica de um revolucionário hoje patrono da UJS – União da Juventude Socialista
passou, a partir de aquele momento ser uma arma de luta contra todo tipo de
opressão dirigida aos escravos.
O Jovem poeta Baiano
deixou sua marca incomparável no panteon da história por ter sido um poeta
românico que pretendia tratar não apenas da escravidão no Brasil, mas também em
algumas partes do mundo, como na própria África. A insatisfação do poeta se
refletiu por toda sua existência, sua vida na verdade foi de pura militância,
isso ficou retratado quando ele desafiou a classe escravocrata e conservadora
recitando seu mais célebre e famoso poema “Navio
Negreiro” –, um ato histórico que marcou as paginas da militância abolicionista
no século XIX.
Um romântico que
cantou as flores, as mulheres e principalmente a liberdade, foi este quem
escreveu poemas belíssimos que atravessaram as barreiras do tempo, a lírica
amorosa e revolucionária nos faz voltar a um tempo importante em que as
tiragens dos livros eram extremamente resumidas. Ler várias vezes seus versos
consagrados não é cansativo. Uma poesia difícil de interpretar, repleta de
pontos de acentuações gramaticais, ninguém jamais escreveu com tanta perfeição
e com tantos pontos de exclamações, reticencias, interrogações, travessões,
ponto e vírgula e assim sucessivamente.
Talvez não tenha sido
um bom aluno no curso de direito, mas agitações e literatura eram com ele
mesmo. Atingiu seu apogeu como vate imortal da LITERATURA BRASILEIRA. Hoje é patrono de uma das cadeiras da ABL –
Academia Brasileira de Letras, é um vulto fundamental de nossa cultura
literária -, o poeta da juventude, do amor, da liberdade, da luta por direitos
iguais este é Castro Alves é, sobretudo um cantador das dores da humanidade,
por isso sua grande diferenciação dos outros poetas do seu tempo.
Sua poesia
infanto-juvenil é ainda uma voz que clama por justiça social na reflexão do
preconceito social que ainda não foi abolido de nosso meio, nessa mesma
vertente, diga-se de passagem, que foi o poeta que retratou a mulher amada de
carne e osso na sombra de uma musa sensual, verdadeira e original e não apenas
ficcionista.
(José
Antonio Basto)
*Poeta e crítico
Urbano Santos-MA, 26 de Agosto de 2014.
“Não sabes, criança? Estou louco de amores.../ Prendi meus afetos, formosa pepita./ Mas onde? No tempo, no espaço, nas névoas? / Não rias, prendi-me num laço de fita”.
ResponderExcluirAmo esse trecho!