quinta-feira, 27 de junho de 2013

Sobre os rumos dos acontecimentos em São Luis


O movimento que tomou as ruas de outras capitais e também de São Luís entrou numa fase decisiva. Ganhou imenso espaço e avanços sociais, tais como: a redução da tarifa de ônibus em São Paulo, a “garantia” de não aumento das tarifas do pedágio para o estado de São Paulo, redução do preço das passagens em outras 10 capitais, derrubada da PEC 37, aceleração do processo de votação no congresso de pautas congeladas, uma nova forma de fazer politica - um claro recado aos partidos -, a convocação e ressureição de antigos movimentos sociais, uma capacidade de mobilização de jovens que nunca haviam participado de qualquer ato politico, a manifestação de indignação contra a corrupção, os gastos públicos desnecessários, o modelo de sistema representativo, dentre outras conquistas que ainda serão percebidas no decurso e ao longo dos tempos.

O processo está em curso, é difícil fazer análise ainda nos desdobramentos e no calor da luta, mas é necessário, sobretudo em relação à São Luís, cuja falta de unificação das passeatas trazem um aspecto positivo e outro emblemático ao movimento. Positivo porque despertou, tem despertado e mobilizado imensos segmentos sociais de várias regiões na cidade a demonstrarem suas indignações com o silenciamento em relação aos seus reclames. Trouxe para a ordem do dia cidadãos anônimos, ocultados pelo mascaramento de politicas públicas perversas (conceitualmente isto é um equivoco, pois se é perversa então não é politica publica, é desvirtuamento do sentido da politica), tem escancarado grandes feridas da exclusão social, fazendo ver as pessoas da cidade a imensa fissura existente numa das capitais mais excludentes e violentas do país.

O lado emblemático fica por conta exatamente da pulverização, foquismo das passeatas, ou seja, sua grande força contem também uma debilidade, haja visto que a cidade tem se transformado nas últimas duas semanas em palco de guerra entre nós, os manifestantes, e a policia militar, levando pessoas em vários segmentos a se questionarem o porque e qual o sentido dessa “pulverização”. Vamos lá.

Uma das características desse movimento se constitui pela falta de liderança, pela nova forma de convocação e mobilização social, excelente, no entanto, essa modalidade começa a mostrar sua debilidade pelos elementos que alguns integrantes não estão levando em consideração, tais como:

a)   Existe uma conotação que liga os eventos nacionais aos de São Luís, no entanto, há que se levar em consideração uma pauta local, afinal, o movimento que aqui vou designar como nacional tem empurrado o legislativo a acelerar as reformas, pelo menos a presente Dilma discursivamente anunciou a convocação de um plebiscito e/ou referendo para a instalação de uma constituinte da reforma politica. Mas, e o movimento em São Luís? Do ponto de vista prático e efetivo, qual foi até agora a conquista, além dos citados acima?

b) Ficar bradando palavras de ordem contra a oligarquia Sarney é um bordão estrategicamente mobilizador da juventude, mas de pouca eficácia politica. A oligarquia Sarney não é responsável pela cultura oligárquica no Maranhão. A cultura oligárquica no Maranhão existe desde a década de 40 do século XIX quando começaram a se instituir os grupos políticos mandatários da província e do estado até os dias atuais. A oligarquia existe porque existe uma cultura oligárquica extremamente consolidada nas veias da sociedade maranhense espraiada em todos os ramos e segmentos.  Isso explica porque até o presente momento a governadora Roseana não recebeu manifestantes, não mudou sua agenda, pauta ou atendeu qualquer demanda do movimento. Em outras palavras, com exceção da forte repreensão policial, ao contrário de São Paulo e Rio de janeiro, cujos rumos da politica estão se alterando o tempo todo, para as bandas de cá, até o presente momento, nada de novo nos céus do velho Maranhão;

c)   É necessário conhecer os inimigos externos dos movimentos, suas táticas e estratégias de contragolpe. Até o presente momento a sociedade autoritária e conservadora maranhense tem tolerado as diversas manifestações diárias, mas isso vai mudar e logo. O comércio começa a sentir os efeitos dos prejuízos causados pelas mobilizações, o trânsito caótico da cidade está ainda mais caótico. A rotina da cidade foi alterada, pessoas não conseguem trabalhar, estudar e até mesmo serem atendidas em hospitais. A reação conservadora, que a nível nacional já começa a falar em referendo e não em plebiscito,  logo inverterá o apoio às manifestações e legitimará cada vez mais a ação policial, cobrando da governadora uma atitude mais enérgica. É impressionante como as pessoas acham que estamos numa onda revolucionária e se esquecem do reacionarismo das elites, da força da opinião pública, do autoritarismo da policia, da capacidade de atuação e mobilização do estado, que por enquanto tem “autorizado” e “tolerado” o caos instalado por uma razão de conveniência em decorrência da comoção nacional, mas não ficará inerte por muito tempo. Eles preparam uma reação, as elites, só esperam o aval da opinião pública. Isto não é uma onda revolucionária, é uma onda reformista;

d)      Falam em fim dos partidos como se o sistema representativo estivesse suprimido, tal como o jogo democrático. Crise da representatividade é uma coisa, fim do sistema partidário é outra. Quando essa onda arrefecer, será com os partidos que teremos que dialogar.  

e)      É necessário conhecer os inimigos internos do movimento, e são muitos. Da artilharia, fogo amiga a pessoas, instituições e movimentos que opinam discordantemente, passando pelos deboches e ironias no facebook, sem reflexão, aliás, não passa de reprodução circulante de ideias produzidas alhures por um instrumento que é pouco produtor de ideias novas, sendo muita das vezes a circulação de frases produzidas por outros meios de comunicação (característica do face), passando pela divisão do movimento em pelo menos quatro grupos: “Acorda Maranhão”, “Vem para as ruas”, “Vem para as ruas, mas não de qualquer jeito”, “Vem para as ruas/Itaqui –bacanga”, e mais recentemente a reunião dos movimentos sociais. Qual é o sentido dessa divisão? É uma característica do movimento a não caracterização de uma liderança, a pulverização? Ok, mas eu acho bom nos unirmos, vem chumbo grosso e a fragmentação não vai nos ajudar em nada;

f)       Ainda falando em divisão interna, quando enfim vamos unificar nossas pautas? É tão feio assim falar em união de reivindicações? Somos inimigos entre nós mesmos ou nossa adversária é a direita conservadora e retrógrada que trama golpe o tempo inteiro?

g)      Por que a intolerância com a divergência? Não é possível discordar de opiniões no campo das ideias e propor ações práticas, ao invés de desconsiderar o histórico de luta de quem passou a vida inteira nas ruas lutando cognominando-os de “adivinhos”, “conservadores”, “burgueses”, etc, etc?

h)      Por que cada vez mais pessoas se afastam do movimento? Não é exatamente por conta da intolerância em dialogar com os diversos campos distintos e propor ações objetivas?

Como exercício politico, fica a minha dica: uma reunião entre os movimentos “Acorda Maranhão”, “Vem para as Ruas”, “Vem para as Ruas, mas não de qualquer jeito”, “Vem para as ruas/Itaqui-bacanga”, “Bandeiras vermelhas”, "Movimento pelo Passe Livre", demais partidos, entidades estudantis, movimentos sociais para a unificação de propostas a serem encaminhadas para diversas entidades, tais como: prefeitura de São Luís, governo do Estado, OAB, Ministério Público, congêneres para tomada e deliberação de medidas urgentes e cabíveis.

Ou unificamos pautas e reivindicações, ou quando essa euforia passar, já está passando, vamos nos lamentar por termos perdido uma excelente oportunidade de mudar nossa história.



                     

Um comentário:

  1. está acontecendo um movimento intitulado de "Acorda Santa Rita", mas pode observa falta de organização e poucos manifestantes. aja visto que a maioria da população trabalha na prefeitura por contratos.

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