O movimento que tomou as ruas de
outras capitais e também de São Luís entrou numa fase decisiva. Ganhou imenso
espaço e avanços sociais, tais como: a redução da tarifa de ônibus em São
Paulo, a “garantia” de não aumento das tarifas do pedágio para o estado de São
Paulo, redução do preço das passagens em outras 10 capitais, derrubada da PEC
37, aceleração do processo de votação no congresso de pautas congeladas, uma
nova forma de fazer politica - um claro recado aos partidos -, a convocação e
ressureição de antigos movimentos sociais, uma capacidade de mobilização de
jovens que nunca haviam participado de qualquer ato politico, a manifestação de indignação
contra a corrupção, os gastos públicos desnecessários, o modelo de sistema
representativo, dentre outras conquistas que ainda serão percebidas no decurso
e ao longo dos tempos.
O processo está em curso, é difícil
fazer análise ainda nos desdobramentos e no calor da luta, mas é necessário, sobretudo
em relação à São Luís, cuja falta de unificação das passeatas trazem um aspecto
positivo e outro emblemático ao movimento. Positivo porque despertou, tem
despertado e mobilizado imensos segmentos sociais de várias regiões na cidade a
demonstrarem suas indignações com o silenciamento em relação aos seus reclames.
Trouxe para a ordem do dia cidadãos anônimos, ocultados pelo mascaramento de politicas
públicas perversas (conceitualmente isto é um equivoco, pois se é perversa
então não é politica publica, é desvirtuamento do sentido da politica), tem
escancarado grandes feridas da exclusão social, fazendo ver as pessoas da
cidade a imensa fissura existente numa das capitais mais excludentes e
violentas do país.
O lado emblemático fica por conta
exatamente da pulverização, foquismo das passeatas, ou seja, sua grande força
contem também uma debilidade, haja visto que a cidade tem se transformado nas
últimas duas semanas em palco de guerra entre nós, os manifestantes, e a
policia militar, levando pessoas em vários segmentos a se questionarem o porque
e qual o sentido dessa “pulverização”. Vamos lá.
Uma das características desse
movimento se constitui pela falta de liderança, pela nova forma de convocação e
mobilização social, excelente, no entanto, essa modalidade começa a mostrar sua
debilidade pelos elementos que alguns integrantes não estão levando em
consideração, tais como:
a) Existe
uma conotação que liga os eventos nacionais aos de São Luís, no entanto, há que
se levar em consideração uma pauta local, afinal, o movimento que aqui vou
designar como nacional tem empurrado o legislativo a acelerar as reformas, pelo
menos a presente Dilma discursivamente anunciou a convocação de um plebiscito e/ou referendo para a instalação de uma constituinte da reforma politica. Mas,
e o movimento em São Luís? Do ponto de vista prático e efetivo, qual foi até
agora a conquista, além dos citados acima?
b) Ficar
bradando palavras de ordem contra a oligarquia Sarney é um bordão estrategicamente
mobilizador da juventude, mas de pouca eficácia politica. A oligarquia Sarney
não é responsável pela cultura oligárquica no Maranhão. A cultura oligárquica no
Maranhão existe desde a década de 40 do século XIX quando começaram a se instituir
os grupos políticos mandatários da província e do estado até os dias atuais. A
oligarquia existe porque existe uma cultura oligárquica extremamente consolidada
nas veias da sociedade maranhense espraiada em todos os ramos e segmentos. Isso explica porque até o presente momento a
governadora Roseana não recebeu manifestantes, não mudou sua agenda, pauta ou
atendeu qualquer demanda do movimento. Em outras palavras, com exceção da forte
repreensão policial, ao contrário de São Paulo e Rio de janeiro, cujos rumos da
politica estão se alterando o tempo todo, para as bandas de cá, até o presente
momento, nada de novo nos céus do velho Maranhão;
c) É
necessário conhecer os inimigos externos dos movimentos, suas táticas e
estratégias de contragolpe. Até o presente momento a sociedade autoritária e
conservadora maranhense tem tolerado as diversas manifestações diárias, mas
isso vai mudar e logo. O comércio começa a sentir os efeitos dos prejuízos causados
pelas mobilizações, o trânsito caótico da cidade está ainda mais caótico. A
rotina da cidade foi alterada, pessoas não conseguem trabalhar, estudar e até
mesmo serem atendidas em hospitais. A reação conservadora, que a nível nacional
já começa a falar em referendo e não em plebiscito, logo inverterá o apoio às
manifestações e legitimará cada vez mais a ação policial, cobrando da
governadora uma atitude mais enérgica. É impressionante como as pessoas acham
que estamos numa onda revolucionária e se esquecem do reacionarismo das elites,
da força da opinião pública, do autoritarismo da policia, da capacidade de atuação
e mobilização do estado, que por enquanto tem “autorizado” e “tolerado” o caos
instalado por uma razão de conveniência em decorrência da comoção nacional, mas
não ficará inerte por muito tempo. Eles preparam uma reação, as elites, só
esperam o aval da opinião pública. Isto não é uma onda revolucionária, é uma
onda reformista;
d) Falam
em fim dos partidos como se o sistema representativo estivesse suprimido, tal como
o jogo democrático. Crise da representatividade é uma coisa, fim do sistema
partidário é outra. Quando essa onda arrefecer, será com os partidos que
teremos que dialogar.
e) É
necessário conhecer os inimigos internos do movimento, e são muitos. Da
artilharia, fogo amiga a pessoas, instituições e movimentos que opinam discordantemente,
passando pelos deboches e ironias no facebook, sem reflexão, aliás, não passa
de reprodução circulante de ideias produzidas alhures por um instrumento que é
pouco produtor de ideias novas, sendo muita das vezes a circulação de frases
produzidas por outros meios de comunicação (característica do face), passando
pela divisão do movimento em pelo menos quatro grupos: “Acorda Maranhão”, “Vem
para as ruas”, “Vem para as ruas, mas não de qualquer jeito”, “Vem para as
ruas/Itaqui –bacanga”, e mais recentemente a reunião dos movimentos sociais.
Qual é o sentido dessa divisão? É uma característica do movimento a não
caracterização de uma liderança, a pulverização? Ok, mas eu acho bom nos unirmos,
vem chumbo grosso e a fragmentação não vai nos ajudar em nada;
f) Ainda
falando em divisão interna, quando enfim vamos unificar nossas pautas? É tão
feio assim falar em união de reivindicações? Somos inimigos entre nós mesmos
ou nossa adversária é a direita conservadora e retrógrada que trama golpe o
tempo inteiro?
g) Por
que a intolerância com a divergência? Não é possível discordar de opiniões no
campo das ideias e propor ações práticas, ao invés de desconsiderar o histórico
de luta de quem passou a vida inteira nas ruas lutando cognominando-os de “adivinhos”,
“conservadores”, “burgueses”, etc, etc?
h) Por
que cada vez mais pessoas se afastam do movimento? Não é exatamente por conta
da intolerância em dialogar com os diversos campos distintos e propor ações objetivas?
Como exercício politico, fica a
minha dica: uma reunião entre os movimentos “Acorda Maranhão”, “Vem para as
Ruas”, “Vem para as Ruas, mas não de qualquer jeito”, “Vem para as
ruas/Itaqui-bacanga”, “Bandeiras vermelhas”, "Movimento pelo Passe Livre", demais partidos, entidades
estudantis, movimentos sociais para a unificação de propostas a serem
encaminhadas para diversas entidades, tais como: prefeitura de São Luís,
governo do Estado, OAB, Ministério Público, congêneres para tomada e
deliberação de medidas urgentes e cabíveis.
Ou unificamos pautas e reivindicações,
ou quando essa euforia passar, já está passando, vamos nos lamentar por termos
perdido uma excelente oportunidade de mudar nossa história.
está acontecendo um movimento intitulado de "Acorda Santa Rita", mas pode observa falta de organização e poucos manifestantes. aja visto que a maioria da população trabalha na prefeitura por contratos.
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