O pedido de concordata da Kodak e a
venda dos negócios de películas fotográficas e de filmes abre uma
discussão sobre o conceito clássico de cinema. Com a entrada e produção de
filmes digitais, gravados e documentados em HD, o mercado
de películas se apequenou, perdeu espaço, continuou a ser custoso e
mudou a concepção tradicional de cinema.
Desde este invento pelos
irmãos Lumière, passando por Chaplin,
Cinema Russo, Alemão, Orson Welles, a criação da poderosa indústria de
Hollywood, até o debate na Escola de Frankfurt acerca da reprodutibilidade
técnica produzida pelo cinema, esta arte-magia sempre se caracterizou pela
reprodução de imagens em película, uma câmara escura, um projetor, uma
sala, público.
Muita coisa mudou desde a invenção
dessa técnica. Monopólios de distribuição e produção de filmes, a criação de
uma das maiores indústrias do mundo, isso mesmo, cinema virou indústria,
passando por modificações técnicas, afetando e sendo afetada por novos meneios
de modernismos, a sensibilidade humana foi profundamente atingida.
Obrigou inclusive a se repensar o
conceito de arte, já que é síntese a mistura/fusão das outras 6
artes. O cinema é tridimensionalidade, é movimento, é expansão, perspectiva,
plano de fundo. Usando Marshall Berman como argumento, a arte é ao mesmo tempo
receptora/promotora das novas sensibilidades humanas, sendo assim, nos fez
sonhar ao mesmo tempo que captou os nossos desejos mais visionários.
O problema é a velha questão da
tecnologia como caudatária da reprodução do capital. A promoção do cinema
enquanto indústria, além de gerar bilhões de dólares, obrigou estúdios,
produtores, cineastas, congêneres, a buscarem novas formas de
confecção/distribuição de olho no mercado consumidor. Paralelamente a isso
apareceu o fenômeno internet/digital, possibilitando as reduções de
custo de produção e o surgimento de indústrias como a Bollywood, da Índia, a
Nollywood, da Nigéria, quebrando o monopólio estadunidense.
Como toda transformação, toda
mudança produz significativas alterações de rota, o fenômeno digital mudou,
por conseguinte a própria concepção de cinema para vídeo. Pessoas nas suas
próprias casas, com parcos recursos e algum conhecimento de
técnica fílmica, linguagem/programa de computador, passaram a fazer
filmes e exibi-los na rede mundial. Há vários sucessos e exemplos, inclusive de
bilheteria (As bruxas de Blair é um deles).
Para atrair o público que deixou
lentamente de frequentar as salas de cinema, a
indústria cinematográfica teve que se reinventar, adaptar-se às
mudanças, que no fundo são do capital. Passaram a filmar remakes, fazer filmes retrôs,
filmar quadrinhos, usar recursos tecnológicos para prender a atenção do
público. O cinema deslindou-se cada vez mais para espetáculo, para o entertainment. O caso da minissérie LOST é emblemático: foi a primeira vez que
cinema/televisão, internet, pesquisa de opinião, foram utilizados na
produção/confecção e forma de conceberem uma série. Os produtores acompanhavam
passo a passo a recepção do público para conduzirem
os capítulos, além de usarem de mensagens subliminares levando o
público a decifrarem quase em tempo real o que iria acontecer nos episódios
seguintes.
A sedução dos filmes 3D (três
dimensões) sinalizava que a morte da película era mais que anunciada.
Só para se ter uma ideia, Avatar só pôde ser filmado quando enfim
surgiu uma tecnologia compatível, possível para a megalomania do
projeto. A mesma coisa aconteceu com a saga Star
Wars. George Lucas filmou detrás para frente, ou seja, começou
sem explicar como tudo havia começado pelo simples fato de que quando havia
idealizado não existia tecnologia suficiente para os efeitos que
desejara.
O mundo é dinâmico, é fato. A mesma
discussão surgiu quando do aparecimento da fotografia, do próprio cinema, da televisão, do disco
vinil, da fita cassete, do VHS, do CD, DVD, do Blue ray, dos
filmes 3D, agora 4D, e da polêmica sobre o futuro das películas.
Talvez a questão seja meramente
conceitual, ou seja, o cinema passará a ser
produção de vídeo, afinal, com a invenção das câmeras fotográficas
digitais, o mercado de películas para fotografia praticamente
desapareceu, no entanto, a fotografia deixou de existir?
O fim
da película representa o fim do cinema? Com certeza não, mas um tipo
de cinema fatalmente vai desaparecer para dar lugar a outro
EXCELENTE REFLEXÃO GRANDE HENRIQUE BORRALHO!!!
ResponderExcluirMAS LEMBRANDO QUE TEMOS SEMPRE EM MOMENTOS HISTÓRICOS ONDAS DE REFLUXO, NOSTALGIA QUE PROPICIA UM RETORNO PARA OS AMANTES DA BOA QUALIDADE... É O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM OS VINIS...
MAS É ASSIM MESMO, AS CONTRADIÇÕES DE UM SISTEMA COMO O CAPITALISMO...
Artemio, tem gente até hoje que prefere os vinis, dizem que a qualidade do som é melhor. te confesso que com a câmara digital nunca mais se fez um album de fotografia. vai tudo para o hd. ai, quando ele queima, é o deus dos acuda.
Excluirabraços e obrigado
A produção de vídeos em detrimento da produção em película está gerando muita discussão entre produtores. Eu acredito que a essência do cinema é o filme (película), o vídeo na verdade é um suporte que ganha espaço pela praticidade, preço e finalização. A estratégia que muitos utilizam é gravar em vídeo e fazer o transfer para película.
ResponderExcluirMas, na verdade, a questão é muito mais ampla. Muitos produtores e diretores locais se quer se dão ao trabalho de entender a diferença. Realizam vídeos e vendem como filmes. Exemplo mais recente é o Ai que vida!, Flor de Abril e a sequencia dessa produção.
Não sou contra a captura do vídeo, mas a película é fundamental para uma produção cinematográfica. Qualquer grande festival do mundo só aceita inscrição em película, seja o filme que for e isso é importante para valorizar a produção cinematográfica.
O mercado brasileiro, para variar, nesse quesito é uma bagunça. Henrique, sabes há quanto tempo não há uma produção de longa metragem em película no Maranhão? Nunca houve!
Frederico machado está finalizando um longa, mas em vídeo, e vai fazer o transfer para película, pois, vai inscrever em festivais internacionais. O Festival Guarnicê, aqui do Maranhão, é exemplo maior da perda de qualidade de produção em função do vídeo. O Guarnicê ainda como Jornada Super 8MM na década de 60 foi pioneiro em produção no país. A partir dele vários festivais no Norte e Nordeste foram criados, destaque para o Ceará, Bahia e Rio Grande do Norte aonde cineastas vieram para o Maranhão para aprender a produzir. No entanto, estancou, parou no tempo e hoje o é Festival Guarnicê de Cinema e vídeo. Destaque para essa denominação, pois, com exceção dos Super 8MM, o Maranhão só ganhava premiações em vídeo com muito esforço, pois, os de melhor filme ficavam com os outros estados.
Outro detalhe que reflete a falta de desenvolvimento técnico da produção local é que os cineastas e produtores maranhenses de fato nunca chegaram a produzir filmes em película 35mm. A escolha do recurso de gravação em vídeo demonstra que da década de 60 até a primeira década do século XXI não houve desenvolvimento técnico e estético do cinema no Estado a exemplo da história audiovisual brasileira. A película 35mm, por exemplo, consagrada por grandes produtores e fundamental na evolução do cinema presente nos mais avançados estúdios cinematográficos do mundo, nunca foi uma opção dos cineastas maranhenses.
po bruno, escreve sobre isso cara. vamos publicar aqui no versura?
Excluiresse é um tema interessantíssimo! Primeiro, porque discute um assunto bem delicado. Será que a industria influência o cinema, ou o cinema que influência a industria? No caso Kodak, empresa americana ligada aos avanços técnicos cinematográficos ao longo do século XX, pra se ter ideia do que isso representa, no início do século passado uma câmera kodak tinha um preço quase equivalente ao de um automóvel ford.no mesmo século, já na metade, é a kodak madrinha do Super 8, que virou febre entre os amadores nos estados unidos e no mundo.A concordata prova que a empresa não acompanhou o "boom" tecnológico dos anos 80, e muito mais, indica que hollywood não está mais interessada em películas e muito menos os exibidores.
ExcluirAno passado em um grupo de discussão no Sesc recebemos a visita de um cara que tem uma produtora cinematográfica, Petrini Filmes ( acho!),no papo ele relatou que agora as produtoras e os exibidores recebem cópias digitais dos filmes e que inclusive Lume cinema estava se adaptando a tendencia.A era digital engoliu a película.
Falando de Maranhão, o Alexandre já tinha tocado no assunto comigo. Acho que de uma maneira geral viver de arte no maranhão é complicado.Em se tratando de cinema, então! Acho que a falta de avanço técnico não é tão simples assim.Falta cursos de cinema,políticas públicas festivais de verdade(sem carta marcada),cineastas antigos que estejam dispostos a ensinar, enfim acho que vocês tem mais conhecimento que eu sobre isso.
Amigos, trabalho com cinema e afirmo com categoria, o fim das cópias 35mm para os cinemas 80% dos cinemas no Brasil irão fechar as portas.
ResponderExcluirDe imediato uns 30% irá encerrar as atividades.
É muito simples entender isto. Os fabricantes de projetores digitais estão trabalhando as distribuidoras no sentido de convence-los da aconomia que os novos aparelhos irá proporcionar, é claro que será bem mais barato distribuir cópias digitais.
Do outro lado está o exibidor que está sendo obrigado a engolir esta nova proposta e sem o direito do repasse desta economia, os filmes serão alugados pelo mesmo preço da pelicula. Acontece que para adaptar as salas para o novo formato não fica por menos de uns R$ 300.000,00, ai estão dizendo que o BNDS financia esta meleca. Por quantos anos seria esta divida para um pequeno exibidor ? Segundo eu sei a vida util de um projetor digital é de no maximo 10 anos, a manutenção é carissima. A pergunta é, o exibidor que tem uma pequena sala irá conseguir pagar este financiamento ? e quem tiver este dinheiro para investir, irá recuperar seu dinheiro em 10 anos? em 10 anos terá que trocar seus equipamentos e ai ? Não sou contra as mudanças desde que seja para melhor, e o que isto melhora em um Pais que se diz rico mas a maioria de sua população vive na miséria. No brasil muitos adultos, não vou dizer crianças, mas adultos nunca foram assistir a um filme em um cinema por motivos óbvios, o valor do ingresso.
Será que estes inteligentes não tem uma idéia mais simples de continuar distribuindo cópias 35mm para os cinemas que deseja continuar com este formato e se manter vivo no ramo?
Paulo Roberto - Cine Tupy