Eu vou contar uma história para vocês. Eu conto histórias.
Eu nunca pensei em ser blogueiro. Eu não queria ter facebook. Fiz meu face para divulgar meu blog. Começou em agosto do ano
passado, momento de muita dor e tristeza pessoal. Era preciso canalizar o
sofrimento, atravessar o luto. Tive a ideia de fazer um blog em que poderia canalizar meus
sentimentos mais compungidos. Nascia o Versura abordando vários
temas livres, sem maiores compromissos, a não ser a vontade de expressar ao
público o que, embora fosse subjetivo, atravessa a imensidão da
existência.
O primeiro nome que me veio a cabeça foi PATAFÍSICA: a
ciência das coisas impensadas, um conceito do francês Jean-Baudrillard, mas já
tinha outro com esse nome. Aí, me veio Versura,
que quer dizer: o desdobramento da palavra, e em italiano: “varrer”, “jogar
para fora”.
Versura é um conceito
de um dos meus filósofos prediletos na atualidade, Giorgio Agambem. Foi-me
apresentado pelo Professor da UFRJ, Poeta e meu amigo, Alberto Pucheu Neto.
Esse conceito tirei da obra O que é contemporâneo, do
Agambem.
De agosto do ano passado para cá, muita coisa mudou em mim
e no Versura. Ele tem sido
um dos meus companheiros e confidentes diletos, com ele canalizo parte do que
penso e até do que não posso publicizar.
Comecei muito acadêmico, escrevendo apenas artigos
meio-científicos, depois fui me soltando. Hoje, escrevo dentre outras coisas,
poesias... risos. Foi tomando uma forma mais literária que qualquer outro
formato, extensão do que sou. A verdade é que este blog é uma parte importante de mim, do que
sempre quis fazer: escrever.
Tudo começou em 1998, curiosamente, quando cheguei ao
Mestrado em História pela UNESP em Assis, interior de São Paulo, e fui
apresentado ao meu orientador Antonio Celso Ferreira. Foi ele que mostrou a
profundidade da relação entre história e literatura. Vivendo na casa de
Josenilma Aranha Dantas, graduada em Comunicação e em Letras, fazendo mestrado
em Literatura, e também com o hoje escritor Ricardo Leão, a chamada “república
maranhense em Assis”, que nasceu uma desconfiança de que apenas a epistemologia
da história não daria conta de minhas angústias. Nascia a vontade de voar para
além dos muros acadêmicos. De lá para cá, acumulei muita vontade de potência,
até que o blog enfim ganhou corporeidade, vida.
Fui testando, escrevendo, escrevendo cada vez mais. Já
recebi um mosaico de críticas de toda ordem, do tipo: “o Versura é um culto a
tua personalidade”.... “deverias escrever sobre outras coisas”... “é um absurdo
não ter mais escritos sobre a política maranhense...” “deverias fazer revisões
gramaticais antes de escrever”, dentre outras coisas.
No São João deste ano, encontrei um aluno de biologia que
de chofre, petardou: “Pô, Henrique, eu gosto do Versura, mas não consigo
entender a linha dele”. Sorri e disse: – “No dia em que ele tiver uma única
linha, tem algo errado comigo, mas ainda quero dizer”...
É verdade, não sei escrever mesmo, alguns artigos peço a
revisão do meu irmão César, mas não dá para abusar sempre, além do mais,
escrevo por impulso, quando vejo, pufff, já foi, publiquei.
É claro que sou vaidoso, mas daí a dizer que é um culto a
minha personalidade é uma distância muito longa. Quando escrevo, sempre penso
no que meus escritos possam interferir na vida do outro, afinal, já interfere
em mim antes mesmo de ser publicado. Somos uma rede, todos nós estamos
interconectados.
E nesse aspecto, este blog me enche de orgulho. Já li cada
comentário e já recebi cada elogio de descer lágrimas do rosto. Certa vez, uma
amiga minha me disse sobre o artigo EGO's: – “Esse texto mudou
minha concepção sobre o cristianismo”... Fiquei emocionado. É isso que
sempre quis fazer na vida, além de interferir na vida dos meus alunos com
minhas aulas.
No começo, eu estava muito preocupado com a quantidade de
acessos, fruto de minha vaidade, hoje, estou com a qualidade. As pessoas que leem
o fazem com profundidade.
Não vou negar que nos últimos 3 meses o fato dele manter
1.000 acessos por mês em média, ser lido em mais de 12 países – nesse
exato momento o relógio conta 8070 acessos, tenho 68 seguidores –, mexe comigo,
mas já não é a minha principal vibe. Escrevo hoje por compulsão,
por dever, por necessidade. Sempre porto um caderno de anotações à mão, dado
pela minha amiga Patrícia Luzio. Tenho ideias dirigindo, andando de bicicletas,
assistindo a filmes, brincando com minhas filhas.
Estou levando a sério a ideia de ser escritor.
Ganhei da Patrícia o livro da Natalie Goldberg (Escrevendo com a alma: liberte
o escritor que há em você), comprei os seguintes livros; de Miguel Unamuno
(Como se escreve um
romance); de Todorov (A beleza salvará o mundo); de Gilles Lipovetsky (A
cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada e também, O
império do efêmero); de Dominique Mangueneau (Discurso Literário), além de
estar fazendo um curso de redação pela internet.
Uma vez perguntei ao meu irmão César como era escrever para
ele. Ele me disse que era um ato contínuo, quando ele percebe, o texto chega.
Foi aí que me dei conta de que algo de diferente estava acontecendo comigo. Uma
crônica me veio pronta, de supetão, e de lá para cá tem sido assim.
Contei com a colaboração de meus amigos ao longo desse ano
que se passou: Claudio Zannoni, César Borralho, Augusto Venturoso, Marcelo
Cheche, Tonny Araújo e Patrícia Luzio. Ele é aberto a todos que queiram
escrever, não é exclusividade minha.
Contei também com uma torcida que sempre me
acompanhou: família, amigos, leitores, seguidores, alunos. Minha irmã Nel
criticou a estilística nos artigos iniciais, minha também irmã
Margarete sempre divulga meus posts,
minhas primas, primos e amigos em geral sempre dão uma força. Sou muito grato.
O Versura é um exercício do narratário que quer
existir, precisou apenas de mim para ter concretude, mas pertence a
todos. Os textos em geral falam da vida, não de mim especificamente. Não sou
importante, nem melhor que ninguém, apenas quero viver com a força de uma usina
de mil megatons. Uma vida inteira não cabe em mim, pois não cabe em ninguém.
Somos todos forças da natureza. Escrevo porque a vida precisa da literatura,
mas a literatura precisa muito mais da vida.
Aos meus amigos Josenilma, a Jô, e Antonio Celso, agradeço profundamente
a profusão das ideias que fizeram brotar em mim. A angústia, enfim, agora
produziu frutos.
Obrigado a todos por essa jornada. A todos que sempre
interferiram e estiveram comigo ao longo da vida. Sem vocês a palavra não se
desdobra.
Querida amiga Sonia Lino, vou acatar tua sugestão, vou
escrever mais sobre literatura.
Que engraçado!!!! Esta crônica é uma metalinguagem....
Feliz aniversário, Versura.