(Patrícia Luzio e Henrique Borralho)
Ele sempre esperava o sol esfriar, assim poderia subir no
telhado e, de frente para o céu, contemplar o ocaso, o início do estimpar das
estrelas e a força de outra luz – a da lua.
Este era o momento mais mágico do dia, e temia que um dia
deixasse de ser o da sua vida. Rogava por permanecer ali até se tornar céu,
estrelas, lua e telhado. Não queria perdê-los, não queria se perder. Entretanto, há tempos ouvia
dizer que era inexorável...
Aqueles instantes eram indizíveis, indeléveis, quase
intermináveis. O lugar era seu, único, singular. A vida em suspensão. Estar no
telhado era ficar mais próximo do céu e distante de tudo.
Mas, haveria de descer. Não havia outra direção, afinal.
Nem sentido.
E, à sua frente, a saga: re-unir-se em telhado e chão duro,
céu e terra úmida. A lua haveria de ser decifrada. Quem sabe cantada?
A descida era quase sempre uma espécie de morte re-vivida,
um espaço intermitente para uma nova subida.
Os anos se passaram e de sua autista criatividade, aprendeu
a subir sem morrer, gargalhando, desafiando aquela morte revisitante,
construindo o saber-coser um fio de aço invisível que mantivesse o telhado dentro, e não mais lá fora, no
alto.
Sebastião ergueu seu próprio telhado.
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