quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

EGO's


    
A definição psicanalítica do ego (acepção freudiana) é a afirmação da subjetividade, tentativa de análise das condições intrínsecas do indivíduo, tudo o que o cerca e o define, e que por razões de sua inserção e historicidade, se esconde subjacente em algum lugar do inconsciente, vez por outra aflorando. Por essa razão, por exemplo, é que elementos como a religião se tornam ao mesmo tempo um vórtice do sujeito, uma inclinação de suas tendências, uma válvula de escape de suas tendências fugidias da realidade, e/ou no limite, uma válvula exatamente por ser uma das tendências do seu vórtice.

Por uma dessas acepções do papel da religião foi que Karl Marx petardou: “a religião é o ópio do povo”. A religião em vez de fazer o seu papel de relegere (releitura, segundo Giorgio Agambem), de levar o sujeito ao conhecimento do seu self, na proposição socrática da maiêutica do “conhece-te a ti mesmo”, relega ao plano da transcendência as circunstâncias de decisão de sua vida, delega a outrem a tomada de decisão política, de mudança do curso da história, ou seja, foge da circunstância da disputa, às vezes necessária para a mudança de posição dos papéis sociais, de uma dada realidade social sob a ótica de outro grupo.

Essa concepção de religião de fato não ajuda muito o sujeito na descoberta do seu EU. Eliminar a circunstância de quem quer que seja, negar tendências, vontades, potências e desejos, é sublimar as especificidades de cada subjetividade, o que a formou, como e por que, é perder de vista o sentido da existência: conhecermo-nos e levarmos os outros sujeitos a também se conhecerem. 

Nesse âmbito, o da descoberta da existência, de forma antagônica e antitética, psicanálise e espiritualismo, cada um ao seu modo, contribui. A psicanálise na afirmação do EU, o espiritualismo idem. A questão é qual concepção de espiritualismo? Na psicanálise a afirmação do EU faz-se na existência do outro, no espiritualismo idem. Ambas de certa forma definem a partir do outro a construção da identidade do sujeito (toda identidade implica apropriação e negação de significados), negando e reforçando ao mesmo tempo o seu EU a partir da coexistência.

Então, qual seria a diferença entre psicanálise e espiritualismo quanto ao processo de descoberta do EU? Várias, não seria diferença, mas diferenças, e, grosso modo, pode ser resumido nesse axioma: o espiritualismo parte do pressuposto que a existência não se encerra no plano da imanência, ou seja, a existência nesse plano é parte de um projeto muito maior, no entanto, a descoberta do plano maior nasce da relação comunal, das relações sociais, da convivência em geral, visto que todos estão interligados.

Partindo dessa premissa, a convivência humana, a cognominada humanidade, é um artifício da espiritualidade para a aprendizagem do EU a partir e pelo OUTRO. O que a história entende por família enquanto agrupamento social estabelecido por laços e necessidade de sobrevivência, depois agrupamento político, o espiritualismo entende como a primeira necessidade de fazer o EU entender que existe o outro. Sendo assim, para aprender a amar a humanidade, foi necessário primeiro aprender a amar o mais próximo: pai, mãe, irmãos, irmãs, tios, etc.

Não há nessa premissa negação das explicações históricas e sociológicas, mas ampliação do sentido ontológico do sujeito. Espiritualismo não nega a ciência, a história, a filosofia, ao contrário, as amplia. Quando, por exemplo, desenvolveu-se a concepção grega de família gerando posteriormente o aparecimento do estado a partir dos genes, clãs, cúrias/fratias, tribos até chegar à pólis, isto pode ser entendido como premissa da organização sociopolítica grega, muito parecida em outros lugares, levando tais sujeitos por necessidade, ligação e emanação fraternal a defenderem seus núcleos, suas tribos, cidades-estados, criando um sentimento gregário, presente na passagem dos hominídeos à condição humana, embora em menor complexidade. No entanto, o encastelamento de uma noção de família restrita ao grupo ao qual os EUS pertencem foi o mote para o surgimento das disputas, guerras, genocídios. Todos nós pertencemos ao gênero humano, todos temos a mesma origem. Enquanto essa concepção holística não for compreendida, permanecerão as brigas, disputas, revoluções, intrigas, afirmação dos egos.

        Para a compreensão dessa visão holística foi que Jesus, o Cristo, o primeiro humanista, conotando uma nova visão das leis mosaicas, reformando o judaísmo, estabelece a nova aliança e o princípio máximo da convivência humana ao declarar: “amarás o próximo como a ti mesmo”. O amor enquanto sentimento já existia antes de Jesus, a conotação de amar indefinidamente a toda humanidade como a si mesmo, não.

Tomando essa noção de amor, podem alguns considerarem enquanto aspecto da negação do EU e das subjetividades, afinal, como é possível viver a partir de uma ideia de que se alguém lhe bater numa face deve-se oferecer a outra? Isso representa uma fraqueza, posto que todas as vezes que alguém for afrontado não seria capaz de defender-se, certo? Errado. Existe nisso um princípio de alteridade. O que significa oferecer outra face quando lhe batem noutra? Um exercício de olhar a mesma situação de outro ângulo. Se todas as vezes que formos ofendidos, magoados, irritados reagimos intempestivamente, estamos perdendo a capacidade de nos colocarmos na condição do outro, perceber sob qual ótica tal atitude foi tomada e possivelmente mudarmos de direção, portanto, oferecer outra face é olhar para o outro lado e enxergar a mesma cena de forma diferente.

Mas claro! Jesus era Jesus, e, segundo Nietzsche, “o cristianismo é impraticável porque o único cristão morreu na cruz”. Certo. Porém, o que Nietzsche criticou foi o cristianismo enquanto moris, moral, condutas arraigadas em práticas culturais que delegavam ao plano futuro as decisões que deveriam ser tomadas aqui, neste plano. O sujeito cristianizado, deslocado de sua condição social, proibido de tomar decisões, atribuía ao além os infortúnios de sua vida, perdia de vista a percepção de que a existência fazia no fazer-se, na compreensão íntima do que competia a cada indivíduo. Nesse aspecto e sob essa ótica não contribuía para a descoberta do self, mas não é o cristianismo de Jesus em si, e sim enquanto moris, tradição.

Há outras possibilidades de compreensão do cristianismo, como a de Spinoza, por exemplo, que pregava a emancipação do sujeito e não o aprisionamento a dogmas. O cristianismo de Jesus é existencialista já que advoga que a responsabilidade sobre a vida de cada um é de cada um: “o reino dos céus é tomado à força”.

O princípio do juízo final, uma alegoria da existência, é uma simbologia do que se processa todos os dias nas mentes de todos os indivíduos: a consciência, lugar onde está plantada a semente de Deus. Portanto, cada um todos os dias tem que lidar com as escolhas que faz e as que deixa de fazer. O outro, muitas das vezes o alterego, é o espelho onde se veem refletidas as atitudes, por isso todos estamos interconectados, não há possibilidade de crescimento sem o outro.

Quando muitas das vezes nos encontramos com alguém e despertamos empatia ou simpatia, o que deveríamos nos perguntar é o porquê de tal sentimento. Qual atitude refletida no outro é projeção do EU?

Eu ainda não esclareci de que espiritualismo estou derrogando. Aquele que respeita a diferença, que entende que cada sujeito tem sua trajetória e tempo específicos para o entendimento de sua identidade, que respeita a condição ôntica e ontológica do sujeito, não se ufana em ser a única verdade – já que existem tradições culturais distintas, diferentes formas de ligação com o cosmos, que é paciente em esperar o crescimento pessoal de cada um, que conotou o lugar dos problemas como princípio de aprendizagem; as dificuldades, os excessos, as restrições, as faltas, ausências e que tudo que foi designado como perda, trata-se de um processo emblemático de entendimento sobre como cada um lida com essas questões e se posiciona diante deles. Os que entendem esse princípio e aprendem com ele, avançam. Os que não, estancam, e vão continuar passando pelos mesmos problemas até entenderem que eles existem para serem ultrapassados por maturidade, não arrancados por Deus. Deus é existencialista.  

De diferentes formas e em lugares Deus “apareceu” em grupos humanos distintos. Para muitos historiadores, filósofos, uma necessidade ascética de criação de algo que desse conta daquilo que não explicava: os fenômenos naturais. E a criação de Deus atendia ao princípio de pertencimento a algo maior que ele, afinal, sem explicação, não restava outra coisa a não ser legar a um ser superior o princípio de tudo. Dessa forma, Deus começava a figurar como espécie de arquétipo de várias sociedades, e uma questão a ser estudada pela psicanálise.

Nesse aspecto é que uma concepção psicanalítica freudiana e lacaniana (não a jungiana) e espiritualismo não se misturam; para a primeira a existência do EU se encerra em si mesmo; para a segunda, todo EU é uma parte de Deus. Deus está em todos os EUS. 

E nisso também as diferenças entre espiritualismo e psicanálise aumentam. Todos os valores apregoados pelo cristianismo, a ética cristã, não a histórica, e sim a do próprio cristo, seriam supostamente a negação do ego, portanto, uma forma de desfiguração do sujeito. De fato, o sentido de negação do EU na ética do Cristo é a negação do Ego, a questão é: de qual Ego? O Ego escondido em artimanhas de bondade, que de bondade não tem nada, pois se esconde atrás de uma ideia de recompensa, num falso altruísmo, numa falsa doação que sempre espera resposta a todo ato praticado; Ego que escamoteia o orgulho, a vaidade, por vezes usando palco e plateia de lutas sociais, supostamente na defesa de princípios de igualdade, no entanto, no exercício do poder revelam-se atitudes despóticas, autoritárias, de sujeitos e personalidades que sempre discursaram contra isso; Ego incapaz de abdicar de conquistas pessoais em detrimento da coletividade; Ego que não ouve, que silencia a voz do outro; que não é prudente, é cedo no falar e tardio no ouvir; aquele que aplaca injustiça; que aponta os defeitos dos outros e não é capaz de enxergar a si próprio; que é sempre o correto, cujos interesses estão acima de qualquer coisa; que possui verborragia, ainda que o discurso seja de linguagem fática; que nunca erra; que não pratica alteridade, impõe sua vontade; humilha, massacra, ofende, xinga, grita, maltrata, rouba, escamoteia, mente, mata, tudo na defesa de si mesmo. Esse ego que muitos defendem como força, para Jesus é fraqueza.

O Ego que se preocupa com o outro não é sinal de fraqueza ou de negação de si mesmo, é sinal de força, afinal, somente um EGO equilibrado tenta ajudar o outro na esperança de que também encontre o seu self, pois ele silenciosamente tem consciência de si.  

domingo, 5 de fevereiro de 2012

FISICA QUÂNTICA E HISTÓRIA: CONJECTURAS ACERCA DA TEORIA DO CAMPO UNIFICADO

FISICA QUÂNTICA E HISTÓRIA: CONJECTURAS ACERCA DA TEORIA DO CAMPO UNIFICADO

        
Deus disse: Haja luz, e houve luz (Gn 1:3). Que relações há entre a narrativa épica bíblica e a teoria do Big Bang? Qual a comutação entre todas as narrativas acerca da criação do cosmo e o discurso cientifico? Somos de fato integrados, unos? O que unifica ou separa a atual Física Quântica e a História? Por que o conhecimento caminhou de uma perspectiva holística para a atomização do saber? Existe de fato então um mundo segmentado, sem coerência coexistencial, como afirmou Marcelo Gleiser quando disse: “não há nenhum projeto da natureza para o homem”. Esta afirmação, vinda de um respeitável físico, coloca impasses quanto à validade dos saberes, a noção de caos, a ordem do universo, a relação homem-natureza.

Questões como estas estão longe de ser novas ou mesmo solucionadas, mas no início deste novo milênio a hiperespecialização das áreas dos saberes científicos existentes nos mais diversos segmentos do conhecimento, parece mais do que nunca não só bizarra, como interconectada ao interesse do grande capital enquanto patrocinador da ciência aplicada, sem interesse outro ao não ser no pragmatismo dos resultados, na ausência de criticidade, no ilogismo, posto que a aplicação de recursos se detém especificamente na obtenção de retorno financeiro. A atomização do saber cria barreiras para o desenvolvimento de uma ciência emancipadora, integrada, holística.

Contrariamente à atual etapa em que se encontram as diversas ciências, as primeiras interpretações acerca do desenvolvimento do universo foram desenvolvidas pelos filósofos pré-socráticos. Com a perspectiva de que os quatro elementos existentes na natureza: terra, fogo, água e ar existentes no éter ou atmosfera formavam a composição basilar do universo, compactuavam explicação axiológica embricando filosofia, enquanto preocupação existencial, e a futura ciência que mais tarde com Aristóteles seria chamada de Física.

Aristóteles, no século III a.C., debruçou-se sobre o movimento ou a substância que tem em si mesma a sua causa. A Física, de Aristóteles até o início da Idade Moderna, ficou quase que inalterada.

Houve uma profunda alteração que a cognominada modernidade causou na perspectiva de compreensão do homem europeu e seu papel na construção dos sentidos de interpretação da história da humanidade, da aceleração do tempo, da modificação do mundo do trabalho, na mudança das relações entre transcendência e imanência, na compreensão do papel da economia, e, sobretudo, na revolução nas mentalidades e no imaginário provocada pela redução do papel da Igreja Católica como instituição legitimante da codificação do mundo, oriunda do advento da nova ciência e das novas descobertas, e do papel de cientistas e intelectuais como Descartes, Bacon, Galileu, Giordano Bruno, Copérnico.

Hannah Arendt conclama a modernidade como desencantadora do mundo, notadamente as relações de sociabilidade existentes na Antiguidade, que tinham como eixo unificador o sagrado enquanto élan de sustentabilidade, coesão e organização social. A autoridade não se impunha, posto que não se impõe, ela o é, diferentemente da autoridade na modernidade que se constituiu culturalmente a partir de novos elementos “artificiais” de congregação social, como o estado moderno, a economia moderna, gestão planejada, estratégias de legitimação, entre outras, como bem frisou Michel Foucault.

É no início da época moderna que ocorre a separação entre Empirismo e Filosofia, por considerar a primeira que seus experimentos seriam suficientes para se atingir os fundamentos das coisas, a verdade, ao contrário da filosofia que baseava seus postulados na especulação metafísica. Cada vez mais a ciência cognominada de empírica se afastaria da especulação interpretativa das coisas, tendo como postulado máximo desta preconização Isaac Newton revolucionando a ciência ao afirmar: “em ciência não basta descrever, é preciso provar”. Era o princípio do Iluminismo e a conotação do referencial paradigmático de que a partir dos experimentos se poderia chegar à Toca do Coelho, livres de qualquer especulação, dogma ou crença, quer dizer, da idade turva, obscura da humanidade. A razão instrumental poderia nos levar à felicidade, à paz e ao progresso: era a vitória da Física e seu paradigma de reducionismo lógico; “havia objetivamente uma ordem natural das coisas e a Física, ciência da natureza, deveria representá-la consistentemente, formulando as regras de sua descrição”.

A Física, conjuntamente com as demais ciências naturais, havia colaborado profundamente com o desenvolvimento da revolução e sociedades industriais com o aperfeiçoamento da descoberta de novos materiais e tecnologias, como: máquina a vapor, telégrafo, telefone, fotografia, cinema. Em meados do XIX, Sir Lord Kelvin, codinome do fisico William Thomson, afirmou ser a Física uma ciência desinteressante, visto que nada mais havia para ser dito ou explicado, era em suma, uma ciência em obsolescência.

Em 1897, a Europa assistia estarrecida à descoberta do eletromagnetismo com Henrich Hertz. A ciência mudaria radicalmente a correlação entre saber e existência cotidiana.

Em 1900, uma nova revolução estava às portas: a descoberta dos quanta; as formas como os elétrons absorvem ou emitem energias específicas e descontinuamente separadas, os movimentos das partículas e ondas. Nascia assim a Física Quântica.

No ano de 1900, Max Planck, descobridor da Física Quântica, afirmou: “a energia não é emitida e tampouco absorvida continuamente, mas sim em minúsculas porções discretas chamada de quanta, ou fótons”. A Física Clássica estuda o movimento dos corpos, mecânica ondulatória dentro de certo domínio de aplicação determinado; a Física Quântica, a existência de um mundo atômico e subatômico, não visto a olhos nus. Por exemplo: a descoberta dos raios-X, do eletromagnetismo, dos computadores, da tomografia, dos supercondutores de energia, dos super ímãs, dos campos gravitacionais, da fibra óptica, deveu-se a Física Quântica. Esta ciência deu um salto no século passado pela descoberta de um novo mundo ainda não perscrutado. Segundo Osvaldo Pessoa Jr.: a Física Quântica é a teoria científica que descreve os objetos microscópicos, como átomos, e sua interação com a radiação, luz, por exemplo.

        A partir da descoberta da Física Quântica, um conjunto cada vez maior de cientistas colocava interrogações sobre a nossa capacidade de entendimento do mecanismo de movimento de partículas e as impossibilidades de desvelamento da caixa preta do cosmo, dentre eles se destacam: Warner Heinseberg, autor do princípio da indeterminação na Física, Neils Bohr, princípio da complementaridade: “não é possível realizar simultaneamente a descrição rigorosa do espaço-tempo e a conexão causal dos processos causais”; Albert Einstein: “é necessário uma corajosa imaginação científica para reconhecer que o fundamental para a ordenação científica podia não ser o comportamento dos corpos; mas o comportamento de alguma coisa que se interpõe entre eles, o campo”; Richard Feynman. 

Einstein certa vez declarou: “somente utilizando o recurso de nossa imaginação poderemos completar a sinopse de decodificação do universo”. Ele recorria a outros paradigmas como elementos integrados da chave de interpretação. Era a teoria do campo unificado, compartilhando da mesma ideia do semioticista Charles Peirce sobre a interatividade na ciência. Para Peirce não há indissociação entre História, Psicologia, Física e Literatura.

As questões que intrigavam os físicos eram sobre a indeterminação do movimento das partículas e ondas. A mecânica quântica, mecanismo de deslocamento dos quanta, mudava a perspectiva de análise referencial dos objetos. Descobriu-se que os átomos não eram indivisíveis e muito menos a menor partícula existente, pois em seu campo gravitacional orbitavam elementos chamados de fótons ou elétrons que necessariamente não se deslocavam na mesma direção, sentido, tempo ou unidade, eles davam saltos. Quando uma bola é arremessada escada abaixo, os elétrons, assim como a bola, necessariamente não se encontram entre um degrau e outro, eles simplesmente desapareciam, mas, para onde? Isto é o chamado salto quântico. Além disto, existe o problema quanto à interpretação de outros mundos, ou seja, as propriedades que na posição anterior são dadas como potencialmente de fato existem simultaneamente. Para alguns cientistas, existem multiplicidades de universos que aumentam simultaneamente. Para estes cientistas, nós mesmos somos múltiplos e existimos de várias formas. Bem, se nós existimos simultaneamente, então o que nos impede de enxergamos nós outros, os outros mundos, etc.? Segundo estes cientistas, não é o olho que vê, é o cérebro, os olhos são apenas lentes que captam as imagens e transmitem a informação para o córtex cerebral que, a partir da leitura cultural existente, lê, seleciona e codifica as informações e cria os sentidos do mundo a partir de nosso julgamento cultural. Além disso, nós só enxergamos aquilo que está condensado materialmente. A descoberta desta perspectiva levou o matemático Lewis Carrol, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, as raias da imaginação em “Alice no país das maravilhas”. 

A partir de problemáticas como essas decorreram segmentações dentro da própria Física:
a) Os ortodoxos; que não aceitam qualquer possibilidade de veiculação com especulação, esoterismo, sobretudo recorrendo a princípios especulativos, não-científicos e verificáveis, quer dizer, para este segmento a Física Quântica se encarrega da compreensão dos cálculos das possibilidades de deslocamento das partículas e ondas;
b) Os que veiculam a mecânica quântica à Biologia (estrutura do DNA e genética molecular), uma vez que há a possibilidade de que o funcionamento biológico opere por mecanismos quânticos;
c)  Aqueles que correlacionam Mecânica Quântica e Química (orbitais quânticos);
d)  Neuropsiquiatria-Psicologia-Psicanálise. Dentro deste debate existe uma divergência: os que defendem que a mente depende exclusivamente da estrutura dos processos cerebrais, e não de sua realização física, sob esta perspectiva, o computador possui consciência, sociedades com determinados padrões éticos, também.

Segundo Einserberg (1927): uma frente de onda espalhada podia ser detectada em uma chapa fotográfica como uma trajetória quase linear, quando um colapso de onda seria causado pelo ato da observação. Este fenômeno seria provocado por um ser consciente: O OBSERVADOR. Para os que discordam da teoria funcionalista, a consciência humana seria a causadora de uma transição quântica.

Segundo David Deutsch, o cérebro é um computador quântico mais eficiente de que um computador digital.

Para Hameroff, no nível subneural ocorrem processamentos de informação, isto quer dizer que células possuem uma delicada estrutura formada por microtúbulos de proteína, formando um citoesqueleto, este mecanismo possui uma função cognitiva, ligada à memória.

Cientistas afirmam que o nosso organismo, apesar de interconectado funcionalmente, cada célula, partícula, glândula, opera por mecanismo de autonomia relativa porque possui um conjunto de memórias que vão se formando com os anos de um determinado indivíduo. Cada célula e glândula têm um arcabouço de operações químicas ligado às suas memórias. É que cada célula possui um conjunto de microtúbulos que recebe a partir do sistema de encaixe, uma enzima ou proteína liberada pelo sistema nervoso. Como essas enzimas ou proteínas sabem exatamente qual a sensação liberada pelo sistema nervoso? Cada sensação no nosso organismo está relacionada ao conjunto dos peptídeos que existem no nosso sistema biológico, isto quer dizer que para cada sensação, desejo ou fantasia produzida internamente, existe uma combinação diferente que desencadeia reações químicas. Por exemplo: os sentimentos de amor, ódio, raiva, alegria, tristeza, etc., estão relacionados à memória das células e glândulas que buscam conotativo para essas sensações provocadas pela conexão com os peptídeos. Quando uma célula se segmenta formando uma outra célula exatamente igual à anterior, a quantidade de microtúbulos existentes nesta nova célula está ligada aos anos de vida que o indivíduo produziu em forma de sensações, da vida que construiu, ou seja, a quantidade de receptores para coisas positivas, boas, alegres que uma célula terá será menor se ao longo da vida bombardeamos nosso organismo com sensações ruins, tristes e derrotistas, desanimadoras, pois como dito, no sistema nervoso, os neurônios constroem teias de relações de longo, curto ou médio prazo. Este é o modelo de Frölich, ainda em estudo.

Não adiantaria então se alimentar corretamente, fazer dieta, praticar esporte, fazer plástica, botar botox, silicone, se internamente a mensagem que seu organismo recebe todos os dias é que você se acha feia, horrível, ruim, assim por diante.

       Segundo Marshall, a Mecânica Quântica explicaria fenômenos de percepção extrassensorial. Alguns autores, corroborando Marshall, alegam que a consciência pode exercer influência direta sobre processos naturais evidenciando que um modelo quântico da consciência daria conta deste e de outros tipos de fenômenos, incluindo os biológicos.

Sob este ângulo, a teoria da sincronicidade de Jung, a questão da intuição feminina, o pressentimento, intuição, deixam de ser coisas absurdas. Ora, se a energia viaja sob forma de ondas não determinadas e o pensamento opera sob forma quântica, o que impede a sintonia de pensamento entre duas pessoas interligadas sentimentalmente? A intuição é um processamento de superposição quântica.  
  
E por último, Física Quântica e espiritualismo. Autores como Fritjof Capra em obras como O Tal da Física, Ponto de mutação, ou Leonardo Boff, A águia e a galinha, Hoyle, Bohm, Hawking, são alguns dos que compartilham desta ideia.

Em uma experiência realizada nas águas da barragem Fujiwori, no Japão, o Sr. Mastmoro retirou uma porção de água e a levou para um laboratório. Com o processo de câmara escura, ele bateu a foto da molécula da água, depois a destilou, em seguida tornou a bater a foto da composição molecular. Em garrafas diferentes colocou uma porção da água da barragem. Na primeira, pediu que um monge budista a benzesse; na segunda, escreveu o “chi do amor’; na terceira, “obrigado’ e, na quarta; “eu odeio você, eu vou te matar”. Resultado: a composição molecular da água mudou radicalmente em cada uma das etapas.

Em uma outra experiência realizada em Washington, capital dos Estados Unidos, várias pessoas do mundo se reuniram e afirmaram que naquele verão de 1997 poderiam reduzir os índices de criminalidade. O chefe da Polícia de Washington afirmou que para reduzir tal índice seria necessário 1 metro de camada de neve. Ao final daquele verão, os índices de criminalidade haviam sido reduzidos em 25%. Esta experiência está registrada na polícia de Washington, e ambos os experimentos estão descritos no filme-documentário “Quem somos nós.

       Se a Física, ou um segmento dela, ainda que sofrendo duras críticas, começa a sinalizar para a possibilidade de que a forma como enxergamos o mundo: fractal, segmentada, caótica é um equívoco, pois como concebiam os primeiros filósofos; o mundo é integrado, harmônico, holístico, a forma como temos compreendido a história não precisaria ser revista? A ideia de que não afetamos o mundo, não temos coparticipação nas decisões coletivas, somos seres desconectados da natureza em sua ampla dimensão, apenas um acidente, de que a única realidade é a material, pragmática, palpável, a verdadeira ciência é aquela que possui uma finalidade específica a responsabilidade pelos percalços decorridos ao longo da história da humanidade não seria uma repetição dos mesmos princípios que levaram à destruição do conhecimento do mundo antigo a partir do incêndio da biblioteca de Alexandria, ou da monopolização do saber através da Igreja Católica que impedia o acesso aos livros que eram guardados pelos monges copistas?

        Sob este aspecto, qual o absurdo da narratividade épica bíblica do “Faça-se luz” e a teoria do Big Bang? Se a teoria do físico Hubble, contradizendo Einstein, de que o universo não é estático e ao contrário, está se expandindo levando a ideia de que o universo estava se contraindo?

       A história faz-se a partir de como homens e mulheres se enxergam e enxergam os outros; se mudarmos a perspectiva do olhar, mudaremos a história.
     



Entrevista com Arton, de Sirius. Parte II

  Entrevista realizada no dia 14 de fevereiro de 2024, às 20:00, com duração de 1': 32'', gravada em um aparelho Motorola one zo...