domingo, 25 de dezembro de 2011

a vitória da derrota: a lenta morte do povo maranhense

Ainda que os dados do IMESC para o biênio 2010-2011 quanto ao crescimento econômico, PIB, em comparação aos de 2008-2009, sejam positivos, 2011 encerra suas portas e não há nada o que comemorar no Maranhão. Mesmo porque os dados positivos da economia maranhense dizem respeito a exportação de commodities, e no fundo há pouca diversificação economica nesse Estado. E no mais, não há nada em paz, é caos para onde a vista bater.

A construção civil já mostra sinais de desaceleração, fruto da restrição credíticia, o crescimento do emprego formal idem, acompanhando a tendência nacional, os ovos da galinha de ouro das transferências federais, via programas sociais, começam a dar sinais de estagnação, ainda que o Maranhão seja um dos estados mais beneficiados com os programas sociais. No resto, caos total.

O Maranhão "estranhamente" foi o estado que menos recebeu recursos federais para a saúde. Alguém pode me explicar por que? Será porque os recursos federais exigem prestação de contas rígida e séria? Por que o povo maranhense morre nos corredores dos hospitais? Não há curativo, soro, nada? Quantas UPA's de fato efetivamente funcionam suas UTI's?  Quem está doente cuide de não adoecer, Maranhão não é terra para se ficar doente. 

Os dados do IBGE de 2010 mostram um despovoamento do centro maranhense e de alguns zonas do Estado. O povo maranhense está sendo gradualmente expulso do campo sem alternativa ante o avanço do agro-business e sofrendo com ausência de um política fundiária. Os movimentos sociais são sistematicamente criminalizados, há mortes registradas pela CPT quase todos os dias de líderes camponeses sem sequer uma única linha nas páginas de jornais. 

Não existe uma contrapartida das grandes empresas de agro-business instaladas no Estado ante a devastação do cerrado, das matas dos cocais, dos babacuais, da amazonia maranhense, desrespeitando práticas comunais seculares. O lavrador morre à míngua sem ter a quem recorrer. Não há cobrança quanto a uma política compensatória, não se estabelece um contraponto aos desmandos dessas empresas. Não é dever do Estado apenas capitanear a instalação dessas empresas, como também de exigir sua agenda de desenvolvimento econômico e sobretudo social para o Maranhão. Aliás, qual é a agenda de desenvolvimento desse governo Roseana?  

Muitos prefeitos dos municípios maranhenses sequer moram em suas zonas eleitorais, muitos moram na capital, onde também compram imóveis. Os municipios maranhenses, grande parte, não possuem infra-estrutura sanitária, de moradia, não possuem políticas agricolas nem projetos de desenvolvimento sustentável local. Exceções como Porto Franco, que possuem coleta regular de lixo, escola de tempo integral, não aparecem na grande mídia. O Maranhão dá dó.

Sempre em último lugar no ranking de desenvolvimento social, o Maranhão não se destaca em quase nada. Qual é a prioridade desse governo? O que esse governo Roseana efetivamente pretende para esse estado? Alguém pode me dizer? O que tem feito para reversão desse quadro caótico? 

A Greve da Polícia Militar mostra a tibieza na articulação com os militares. Incompetentes, setores do governo tiveram que recorrer a AOB para contornar a situação, pois que nem os deputados da base foram capazes de fazer. Isso demonstra a ausencia de clareza na política salarial dos servidores do Estado.

O fechamento da biblioteca pública Benedito Leite por todo esse tempo e sua transferencia para a Rua do Egito revela não apenas a incompetência em resolver o problema, como o completo descaso com a cultura do Maranhão. Eu vou repetir: a biblioteca do Maranhão é a segunda mais antiga do país. 

O sumiço dos 72 milhões de reais da prefeitura de São Luis revelam outro grave problema desse Estado. O mandato do prefeito João Castelo vai terminar o que de fato ele fez durante esses três anos? Qual é efetivamente a marca, a obra, a concepção de gestão de Castelo? é caos para todo lado. 

O povo maranhense morre à míngua, posto que não há respeito efetivamente por essa gente. Grande parte dos gestores da coisa pública não possuem compromisso social, a não ser com a perpetuação do poder. Sequer entendem o que é o Maranhão, sua história e sua verve. O Maranhão é de chorar. 

Historicamente pobre, todos esses anos foram incapazes de mostrar que o principal compromisso de uma gestão pública é de enlevar e elevar o sentido do espirito de um povo, sua marca, suas características, potencialidades, perspectivas, tendências. Quando o casamento entre os sentidos sociais de um povo está em consonância com a concepção de gestão pública vê-se a noção de desenvolvimento socio-econômico atrelar-se ao respeito e alma de uma sociedade, em que o compasso entre práticas culturais, estilos e modelos de vida, necessariamente não entram em choque com práticas arbitrárias do grande capital.

Vide o turismo em Barreirinhas. Olha o que aconteceu com aquela cidade? Onde os moradores efetivamente desfrutam do avanço do grande turismo? Fizeram parte do planejamento ou suas práticas sociais foram efetivamente respeitadas? Não. Explodiu o turismo social e infantil, os casos de contaminação por HIV, a ocupação de regiões ribeirinhas onde anteriormente viviam comunidades pesqueiras e tradicionais. É uma cidade amorfa, como aliás está se transformando o Maranhão.

Tudo no Maranhão está empregnado de seu contrário. O povo maranhense desfruta das riquezas do pescado retirado de águas maranhenses? Para onde vai grosso modo o pescado retirado de águas maranhenses? Quem efetivamente fica com bom parte do lucro dessa extração? Para onde estão indo os maranhenses expulsos do campo? Alguém pode por favor me dizer o que estão fazendo com esse Estado?

Qual é o projeto educacional para reversão do analfabetismo e das péssimas condições de ensino? A única Universidade Estadual, a UEMA, faz parte de uma estratégia de desenvolvimento do Estado? Qual é a concepção de cultura? O que se pretende fazer com o pequeno lavrador? 

Quem tiver respostas, por favor, encaminhe a este blog. Aguardo ansiosamente e terei o maior prazer em publicá-las. 

      

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

tróis couleurs

Sempre na mesma época do ano quando as chuvas já deixaram de verter suas águas há mais de 6 meses, já baixaram seu espelho, os campos estão mais secos, Damasceno aproveita para visitar as cidades dos campos baixos, carregado de bugigangas que compra de outros centros maiores, sempre trazendo novidades para os moradores da região. 

Numa dessas viagens tomou pé da morte de Francisco, jovem forte, alegre e sorridente, que numa tarde de pescaria caiu do barco e se enroscou numa rede de pescar sem conseguir se desvencilhar. Ao encontrar com Maria, mãe de Francisco, assídua compradora de panela, pano de prato, plásticos, todo tipo de tupperware, com rosto desfalecido, chorava copiosamente ao lamentar a perda do filho. Disse Maria que a perda do Francisco era uma dor lancinante, insuportável, que era uma injustiça da vida perder um filho tão jovem, afinal, quando um idoso morre é mais um barco que cumpre sua rota depois de muito ter navegado, mas quando isso acontece a um jovem é como se o mesmo barco aos poucos descrevesse um arco e evitasse atracar no cais. 

Depois de tomar uma xícara de café e de tanto ouvir os lamentos de Maria, Damasceno se surpreende com as lamentações incontidas e com a revelação de que a dor era tão insuportável que Maria pensara em se suicidar, afinal, a vida havia perdido o sentido. Foi aí que os anos como caixeiro viajante de Damasceno lhe serviriam para consolar alguém. Recolhendo durante anos histórias de superação como a morte, começa a narrar sobre como outras pessoas continuaram suas vidas, deram a volta por cima, encontram outros significados para além da dor. E disse mais. Francisco do outro lado da vida estava ouvindo aquela conversa, estava preocupado com a situação de tristeza da mãe, não era assim que gostaria de ser lembrado, que continuava amando sua mãe e que ela deveria recobrar suas forças, afinal, sua irmãzinha, Mundiquinha, precisava muito do apoio, presença e força de Maria. Enxugando as lágrimas Maria agradece as palavras de Damasceno, disse ter sido providencial sua passagem por ali e que faria de tudo para seguir em frente. Com um sorriso contido Damasceno se levanta, devolve a xícara de café, beija Mundiquinha, abraça Maria e vai visitar outras casas.

Antes, porém, de visitar Curió, hábil sapateiro da cidade, sem competidor na arte de fazer sandálias de couro e solado de borracha de pneu, avista ao longe os campos. Como dista mais ou menos uns 3 km até os bares à beira do lago, toma uma moto-táxi e pede para ir até um desses bares. Logo na chegada, encontram Tonico, cunhado do moto-taxista que o levara ao bar, sozinho e choroso, ouvindo música a toda altura, sonoridade ruim, letra idem, amargando a separação da mulher. Tonico só conseguia expressar a dor de ser abandonado, dizia não entender por que Doralice o havia deixado, se por influência de sua mãe, se no fundo usara tal pretexto para se desfazer do casamento, ou, se ainda havia outro homem na jogada. O certo que o pedreiro que passava tempos na construção de uma barragem que dista uns 700 km das cidades dos campos baixos lamentava o esforço em vão, noites e noites de horas extras para erguer a casinha. Nos planos a prestação do bólido, na casa, a ideia de uma churrasqueira no quintal. Tudo perdido. Pensava em vender a casa do jeito que estava. Estava completamente perdido, sem rumo e saber o que fazer. De novo o acúmulo de experiências de traições, abandonos e vidas recomeçadas recolhidas por Damasceno serviu para consolo de Tonico. Foram horas de conversa regada a cerveja, música alta e ruim, e os lindos campos baixos no horizonte. Depois de tanto ouvir os conselhos de Damasceno, Tonico pede a conta, toma a decisão de voltar ao canteiro de obra da barragem, fazer mais hora extra e continuar sua vida. Aliviado, Damasceno toma a moto-táxi de volta à cidade. 

Dois dias depois de apurar a venda, era hora de levantar o acampamento e rumar para outra cidade. Decide viajar de noite para no amanhecer dar tempo de chegar ainda na feira de Baixão, cidade também da região dos campos baixos. Quando ainda arrumava as coisas, vê um jovem se aproximar lentamente, preocupado, pensa se tratar de um assaltante. – Tem R$ 1,00 aí? disse o jovem. Abrindo a carteira Damasceno retirou o dinheiro e deu ao jovem. Foi aí exatamente que o jovem fez um movimento supostamente errático, colocando a mão direita para trás, sacando algo, Damasceno pensou ser uma arma e ficou ruborizado de medo, esquivo. Era a carteira de identidade. O nome era Tomás. Ligeiramente alcoolizado, Tómas disse ser aquele dia o seu aniversário, mostrando a data de nascimento. Seus amigos depois que acabou a cerveja foram embora. Damasceno o cumprimentou e felicitou pelos seu dia. É a primeira pessoa que me dá os parabéns hoje!! É um dia triste para mim, sem sentido, por isso estou vagando pela noite. Tá vendo esse corte aqui? (mostrando uma cicatriz abaixo do queixo), foi um cara que três anos atrás me furou nessa mesma praça aqui e agora à noite eu tô indo atrás dele para matar... Sabe o que todo dia ir ao espelho e ver essa cicatriz? Damasceno disse: Se você não me mostrasse, eu não notaria. E começaram a conversar. 

Tomás contou que tinha sido preso, morava com seus pais e era um inferno, adorava ir as festas para brigar, não tinha amigos e a vida não tinha sentido. Damasceno disse se valeria a pena ser preso por uma briga ocorrida três anos atrás, afinal, ele também estava armado e se em vez dele ter sido furado no queixo tivesse matado o outro rapaz da briga, ou mesmo o furado? Continuou explanado que a vida era maior que as brigas, os falsos amigos, que não valia a pena ser preso de novo, era muito jovem, apenas 21 anos de idade, e que no futuro Tomás se casaria e teria um filho. Ao ouvir isso desceu uma lágrima do rosto do jovem cicatrizado. Deram-se as mãos e Damasceno seguiu seu rumo. 

Ao cruzar a esquina reencontra Tonico subindo num ônibus rumo a cidade onde se construía uma barragem. Ao vê-lo Damasceno grita e acena para ele. Os dois dão-se as mãos. Tonico também estava um pouco bêbado e disse que não sabia o que fazer, mas ia seguir em frente. Iria voltar com mais dinheiro, erguer a casa para mostrar a Doralice que naquela cidade ninguém seria um melhor parceiro que ele. Foi a última vez que se viram.

Deixando o ônibus de Tonico ir embora, Damasceno olha para a cidade e se pergunta o que estava por detrás dessa viagem. Vê Tomás sozinho no banco da praça, olha para o ônibus e se lembra de Maria. Abaixa a cabeça, se sente feliz por ter ajudado três pessoas. 

Foi a melhor viagem de sua vida. Não ganhou tanto dinheiro, recolheu mais histórias e foi a primeira vez que deu conselhos a outras pessoas. Olhou suas bugigangas e pensou: ser caixeiro faz sentido, o que eu levo para mim é pouco da vida de cada um, não o que deixo de mim nas mercadorias.                                  
                                   

sábado, 3 de dezembro de 2011

Rock e Juventude


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ROCK E JUVENTUDE
Por Claudio Zannoni
135 milhões de reais, dos quais 100 milhões em investimentos e 35 milhões com mídia; um impacto na ordem de 880 milhões de reais na economia da cidade do Rio de Janeiro. Ocupação hoteleira na ordem de 90% durante os cinco dias. 700.000 ingressos vendidos para 300 a 350 mil pessoas que transitaram na Cidade do Rock no mês de setembro deste ano.
Durante o evento, houve cerca de 240 ocorrências policiais entre furtos, venda de ingressos falsos, sequestro de armas, tentativas de invasão e expulsão de pessoas do recinto. Cerca de 10.000 atendimentos médicos nos cinco dias. Cerca de 200 toneladas de lixo foram recolhidas pela Conlurb. O mau cheiro tomou conta da “cidade do rock” quando o sistema de esgoto dos banheiros estourou, houve protestos resultando em quebra-quebra. Os serviços de alimentação foram precários e insuficientes para as pessoas que apareceram durante os cinco dias de show. Faltou também organização e preparação. A insegurança, em alguns momentos, tomou conta da população que ali estava.
Na medida em que o Rock in Rio se sucede, sempre mais pessoas afluem, o marqueting aumenta e os problemas são projetados de maneira exorbitante. Este ano os dados superaram em muito o primeiro Rock in Rio de 1985 que durou 10 dias apresentando ao público brasileiro bandas novas e ainda desconhecidas. Superou o de 1985 até na desqualificação do rock como um todo. A maioria das apresentações deste ano foi de artistas pop, axé, dance etc..., não de bandas de rock, as quais representaram a minoria. No primeiro Rock in Rio houve a preocupação dos organizadores em apresentarem um bom e atual rock incluindo bandas nacionais e internacionais.
O Rock in Rio deste ano mostrou a verdadeira cara do investimento capitalista. Salas Vip para mais de 2.000 convidados, dois palcos enormes dividindo os interesses das pessoas. Uma rua com lojas, restaurantes e bares. Desfiles de moda, shopping. Uma roda gigante, uma tirolesa, um free fall, uma montanha russa. Vale a pena se perguntar: houve, afinal, espaço para o rock? Um repórter, que dava cobertura ao festival, disse inconscientemente: “hoje haverá também um pouco de rock”. O negócio foi tão proveitoso para os bolsos que agora estão querendo realizar o Rock in Rio a cada dois anos.
Afinal, o rock, que surgiu como movimento de contestação musical e, sobretudo, social, que representou o desejo de mudanças de toda uma geração de jovens dos anos de 1960 em diante, hoje está sendo apropriado pela indústria capitalista que tanto foi contestada no seu surgimento. O que mudou de lá para cá?
Estou escrevendo olhando e ouvindo pela enésima vez o show de George Harrison em favor da população do Bangla Desh que estava morrendo de fome em 1968. Os valores que o rock apresentava se baseavam na justiça social, no respeito pelo diferente (Ravi Shanka tocando músicas indianas na sua citar), contra uma sociedade que oprimia os mais pobres, que explorava os últimos, que estava preocupada somente com seu próprio bolso. A partir deste show, podemos dizer, vários outros se sucederam em favor das populações da África morrendo de fome: Biafra, Etiópia etc... Os shows políticos: em favor de Mandella, pela liberdade da África do Sul; os live AID; contra o G7 e a política econômica; pelo respeito dos direitos humanos e assim por diante. Havia, sim, uma preocupação com o outro, com os que mais sofriam. Georger Harrison, Bob Dylan, Joan Baez, Eric Clapton estavam sempre à frente destes movimentos, mais tarde Bono do U2 e tantos outros.
Mas o que, a meu ver, deixou a grande marca do começo do rock foi o festival de música e arte de Woodstock de 1969. As gerações de hoje dificilmente poderão recuperar esse grande momento da vida no planeta. Digo isto porque sua repercussão em nível mundial não se deu por causa de um marqueting publicitário, mas pelo sentido que representou para uma geração jovem e esperançosa de mudanças. O lema do festival: three days of peace and music (três dias de paz e musica), como expressão da primeira exposição aquariana da história, representava o que de mais inovador e revolucionário havia surgido na sociedade americana: o movimento hippie. 500.000 jovens afluíram à pequena cidade de Bethel, a 150 Km de Nova York, como por um instinto e um desejo primordial de se encontrar e estar juntos. Ninguém esperava tanta gente e nem estava preparado para tanto. As estradas de acesso ficaram bloqueadas. Médicos, enfermeiros, freiras e muitos outros se ofereceram como voluntários para ajudar essa multidão de jovens e oferecer uma hospitalidade decente com a rala sopa oferecida. Ninguém, ou pouquíssimos jovens, tinham dinheiro para pagar o ingresso. Afinal, para que o ingresso se a motivação que eles tinham dentro de si era a de se encontrarem e vivenciarem uma experiência nova e despojada de paz, amor e música? Os organizadores, de fato, liberaram a entrada.
Comparados com os números do Rock in Rio, os de Woodstock foram bem diferentes. Os organizadores, para pagarem as dívidas do festival, tiveram que vender os direitos autorais sobre as produções relativas ao festival para as gravadoras: filmes, discos, logomarca e assim por diante. Mas dentro de si, nas palavras de Elliot Tiber, um dos organizadores do festival, “pode não ter mudado o mundo por completo, mas mudou drasticamente minha vida. E até hoje, toda vez que vejo uma camisa tié-dye ou ouço a música de uma das bandas do Woodstock, é impossível não sorrir” (TIBER, 2009, p. 292)[1].
Uma geração que proclamou o direito à “objeção de consciência” contra a participação na Guerra do Vietnam; uma geração que proclamava a igualdade entre todos os cidadãos; uma geração que se colocava em oposição à subida ao poder de Richard M. Nixon em janeiro daquele ano; uma geração que buscava liberdade, paz e amor. Tudo isto pode ser bem representado numa das músicas tocadas por Jimi Henderix como encerramento do festival quando entoou o Hino Nacional americano, entrecortado pelo som das bombas que caíam no Vietnam, nos efeitos de sua guitarra Fender Stratocaster. No dia 24 de abril de 1969, no ataque mais pesado da Guerra do Vietnam, haviam sido lançadas 3.000 toneladas de bombas atingindo a população desesperada. A foto representativa disto mostra uma menina de uns dez anos nua, ferida e ensanguentada correndo com os braços abertos quase a pedir o fim de tudo aquilo.
Não houve crime nem violência no festival. Não houve tumultos, nem estupros, nem ataques aos moradores. [...] Um espírito verdadeiro de generosidade, colaboração e comunidade tomou de conta das pessoas na fazenda do Yasgur. Dava para ver nos sorrisos largos, nos sinais de paz constantemente mostrados e na ajuda que ofereciam a desconhecidos. Mesmo as condições difíceis não diminuíram o clima festivo nem o amor e o carinho que as pessoas demonstraram umas às outras. (TIBER, 2009, 279-280).
Com estas palavras significativas quero encerrar esse editorial e colocar uns questionamentos no ar: esse espírito morreu? Onde está a geração jovem, cheia de esperanças e de desejos de igualdade e liberdade lutando por mudanças? Será essa a juventude que encheu os bolsos dos organizadores do Rock in Rio? As gerações de 1968 e 1969 exigiam mudanças significativas para uma nova ordem mundial e os estudantes foram a voz desse movimento. Hoje, a primavera árabe e o movimento por uma nova ordem econômica mundial podem ser as esperanças para o início do século XXI. Os jovens estão tendo, novamente, e terão, certamente, um papel primordial nas mudanças sociais.
Claudio Zannoni
Editorial publicado na revista
Cadernos de Pesquisa Vol. 18, n. 3
setembro-dezembro de 2011




[1] TIBER, Elliot. Aconteceu em Woodstock. Trad. Mariana Lopes. Rio de Janeiro: BestSeller, 2009.

Entrevista com Arton, de Sirius. Parte II

  Entrevista realizada no dia 14 de fevereiro de 2024, às 20:00, com duração de 1': 32'', gravada em um aparelho Motorola one zo...