sábado, 24 de setembro de 2011

A lamentável distancia no Brasil entre ensino básico e superior

Participei nos dias 21 e 22 deste corrente na cidade de Brasilia, do I Encontro Nacional do PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica) do governo federal, na condição de professor bolsista do PARFOR, da qual o Programa Darcy Ribeiro está inserido com 20 turmas em 11 municípios do Maranhão, tem a mesma natureza que o plano nacional, aliás, é anterior, representando a UEMA, juntamente com a Coordenadora Acadêmica Ligia Almeida, e a aluna do programa da cidade de Rosário, Joicimary Lima Rego. Na abertura do evento a Profª Drª Carmen Moreira Castro Neves, Diretora de Educação Básica - DEB/CAPES, mostrou e citou o material didático produzido pelo Programa Darcy Ribeiro da UEMA como sinônimo de qualidade e beleza. 

Como política de governo e demostrando a importância de tal programa, participou da solenidade de abertura o ministro da educação, Fernando Haddad, relatando os esforços do governo federal no plano educacional. Também estavam presentes representantes de todas as universidades brasileiras, na condição de professores, ou coordenadores do PARFOR, ou até mesmo aluno. Comecei a ter dimensão do que estava ocorrendo, afinal, a CAPES, que sempre se ocupou da Pós-Graduação, finalmente entendeu a importância da educação básica no país e vai passar a financiar projetos e custear bolsas de estudos para esse segmento.   

O encontro tinha por objetivo discutir os principais problemas e encaminhar sugestões para o bom encaminhamento do programa, além é claro, de ser também uma propaganda do governo federal para a educação. Não demorou muito para os ânimos se exaltarem e para aqueles que eram críticos do governo federal e do programa destilarem seus argumentos, todos válidos. 

Ficava cada vez mais acentuado os problemas educacionais do país. No entanto, acredito que um olhar mais arguto pode ter passado em brancas nuvens para um grande parte dos participantes, também passaria por mim se eu fosse um profundo conhecedor das politicas do PARFOR, mas na condição de professor e não de coordenador, restava-me atentamente entender os meandros dessa política, logo, meu envolvimento era diferente de quase todos que estavam ali. Foi ai que começei a perceber meu profundo desconhecimento sobre o que seja educação básica, os seus reais problemas e o quanto existe uma dissociabilidade entre educação básica e superior, e o quanto as universidades brasileiras ensinam, capacitam e preparam mal seus alunos, graduandos. 

Uma parte das críticas recaiu sobre os problemas operacionais do programa (só explicando: as universidades  são as responsáveis pela formação de professores leigos e/ou que cursam uma segunda licenciatura, mas não em sua área), mas o restante, embora tivessem a intenção de atacar o governo, estavam na verdade esgarçando as contradições da relação ensino-aprendizagem no pais. Ou seja, miraram no que queriam, acertaram em outra coisa, em si mesmos. Eu explico. 

Era necessário, penso eu, separar o que são os problemas de fundo operacional do programa (repasse de bolsas, cadastramento de professores, aplicação de recursos, visitas técnicas, avaliação e acompanhamento pedagógico) dos problemas que dizem respeito à concepção pedagógica que as universidades, digo, dos professores, acerca do que seja licenciatura, ensinar, preparar e capacitar professores que estão há anos em sala de aula sem recursos ou preparação adequada, além da exposição de problemas políticos, tais como: a falta de articulação de secretárias estaduais, municipais com o PARFOR e o desconforto das universidades com a educação básica nesse pais. Como no Brasil não existe política de Estado e sim de governo, não há nenhuma garantia da perpetuação desse programa, afora a oposição sistemática que governos não petistas fazem à política educacional dos governos Lula e Dilma. O PT, outrora oposição, era ardil nessa prática, hoje é governo. Ou seja, a expor as contradições do programa, e tem que expor mesmo, sem se darem conta, muito professores estavam fazendo verdadeiros atos de confissão de incompetência sobre o que seja ensinar nesse país, a começar pela separação entre o trinômio: ensino, pesquisa, extensão. Os problemas ficaram visíveis: embora a política seja nacional, de governo, a aplicabilidade do programa fica a cargo de cada universidade. Nesse contexto as diferenças entre as diferentes instituições de ensino superior nesse país saltaram aos olhos. Marilda da Silva, professora da UNESP de Araraquara foi taxativa: na sua universidade distribuição de disciplina, atribuição, não segrega o que é curso regular do PARFOR e, pelas condições de qualificação do seu estado, São Paulo, os professores do Departamento de Pedagogia que por ventura não podem ministrar aulas no PARFOR são substituídos por professores contratados que estejam no minimo cursando disciplinas do doutorado. Isso implica dizer que a forma de inserção de cada Universidade no programa é muito diferente, sem salientar, já mencionado, a falta de comprometimento das secretárias de educação e sua desarticulação e a falta de compromisso de muitos professores com o Programa. Há casos até da falta de compromisso de pró-reitorias com o programa, pasmem!!!!!

A questão central é que muitos professores ao reclamarem das politicas publicas referentes à educação expunham a deficiência da nossa formação e consequentemente da formação de nossos alunos. Muitas das reclamações eram provas cabais da falta de comprometimento de professores, da ausência de concepções teóricas e metodológicas sobre educação, da total incompreensão sobre avaliação, do improviso, da segregação entre o que é ensinar para alunos regulares da graduação e alunos-professores da rede básica de ensino, muito deles sem estudar há anos. Portanto, perderam a excelente oportunidade de, diante do ministro, expor os problemas das políticas públicas apontando as falhas operacionais do programa e expuseram o processo histórico brasileiro equivocado sobre o que é ensinar, que no fundo se reveste como crítica aos sucessivos governos brasileiros que passaram pelo Palácio do Planalto sem darem importância à matéria, em especial à educação básica.

Como guisa de exemplificação de nossas deficiências, fomos brindados com a excelente conferencia ministrada pelo Profº Drº Diogo Onofre Gomes de Sousa, da UFRGS, sobre o tema: "A importância da Neurociencia na sala de aula". O que um neurocentista faz ministrando uma conferencia para professores sobre sala de aula? Mostrar que a negligencia sobre o comportamento do cérebro humano é o primeiro erro que professores cometem todos os santos dias no Brasil. Para ele, a formação básica é fundamental no desenvolvimento do conhecimento e da pesquisa. Evidenciou como a complexidade coletiva não está acima da individual na sala de aula, e que portanto o cérebro é que torna os indivíduos únicos no universo, ou seja, a memória individualiza a existencia de cada ser. Aprender uma coisa nova é mais fácil que desaprender uma coisa velha, nós só aprendemos coisas novas porque todos os dias jogamos fora tantas outras informações que não nos são mais úteis. O Professor Diogo estava expondo nossas contradições, deficiências e o quanto todos os dias "matamos" as capacidades reflexivas nos alunos em sala de aula. Ele afirmou categoricamente que no Brasil professores ensinam mais por ideologia do que por conhecimento científico, ensina-se muito mais por convicções pessoais. Que fique claro que ele assumiu que tem posições ideológicas, todos nós as temos, é impossível separar o sujeito de sua condição histórica, o problema é quando essas convicções atropelam o próprio mecanismo do conhecimento. E conclui trazendo dados estatísticos de estudos realizados na Inglaterra comprovando a relação entre Educação Física e aprendizagem. Quanto maior a capacidade, a atividade física, melhor o desenvolvimento do raciocínio e da aprendizagem. A partir desse estudo a prefeitura de Farroupilha levará em consideração o ritmo biológico dos alunos na efetuação da matrícula em 2012, ou seja, alunos que tem melhor desempenho no turno matutino estudaram pela manhã, no turno vespertino, estudaram a tarde. Senti vontade de chorar quando me lembrei do meu Maranhão.

Chorar porque existe sim uma intrínseca relação entre políticas governamentais e o perfil, quadro da educação no nosso estado. O Profº Drº Antonio Carlos Caruso Ronca, Presidente do Conselho Nacional de Educação - CNE, trouxe dados estarrecedores sobre a nossa realidade. Alguns deles: apenas 50% dos jovens brasileiros em idade de conclusão do ensino médio frequentam escolas no país; as piores escolas brasileiras estão exatamente nas grandes metrópoles e nas cidades com até 10.000 hab; os estados que apresentam melhores resultados na educação básica nesse país são: Amapá, Ceará, e o nosso vizinho Piaui. O Maranhão, como sempre, apresenta os piores resultados.

Esse artigo é um desabafo, um grito, uma sensação de incompetência e desânimo de minha parte por constatar tal grave situação no estado do Maranhão. Estou fazendo mea culpa, repensando minha prática em sala de aula concebendo a educação apenas para um certo nível de conhecimento, como se meus alunos na graduação não estivessem sendo capacitados para também serem professores da rede básica de ensino.

Para concluir, gostaria de citar Ariano Suassuna. Quando entrevistado pelo excelente entrevistador Roberto D"Avila se ele era otimista ou pessimista, petardou: "_ não posso ser otimista ao longo dos meus quase 90 anos, seria uma prova de minha incapacidade de enxergar a realidade brasileira e não perceber as descontinuidades nesses país, os sonhos frustrados. Também não sou pessimista, caso contrário, daria cabo da minha vida. Sou um otimista esperançoso.

Foi com essa sensação que voltei de Brasilia.            

3 comentários:

  1. Henrique, gostei muito desse seu texto. Primeiro que muitos estão procurando problemas externos, e quando na verdade estes problemas também podem está em nós. "E porque reparas tu no cisco no olho do teu irmão, e não vês o trave que está no teu olho? (MT: 07:03)". Outras duas frases me veio a kbça uma de Chico Anysio, em entrevista disse: "não tenho vergonha de mudar de ideia". E a outra é de Platão: "toda ignorância é involuntária , e aquele que se acredita sábio se recusará sempre a aprender qualquer coisa de que se imagina esperto". Ai é que eu digo, Henrique, você ainda tem esse filósofo dentro de você que o faz evoluir a cada dia, não tem vergonha de mudar de ideia .
    Ademais queria comentar a deficiência do curso de história da UEMA , não no quesito ensino, mas no quesito ensinar a ensinar. Quando os alunos brigaram por um curso que tivesse também bacharelado era porque este mesmo curso, ainda que tivesse sido oficialmente de licenciatura, tinha o carácter de bacharelado. O curso de história não estar apto para formar educadores. E eu não vejo os professores engajados nessa área (estão muito mais preocupados em formar pesquisadores). Excetuando o Fabio e a Julia. As aulas de práticas foram experiencias traumatizantes , pois são cadeiras que professor nenhum no curso quer pegar. Ai só recebemos teorético, sem nem uma aplicabilidade na sala de aula. Em nenhum momento das práticos foi ensinado como se avaliar o aluno, não foi ensinado a Didática da história, não foi ensinada a se fazer um texto didático (e com certeza nem os professores do curso saibam fazer, que é difícil de mais de se fazer, não é atoa que Terra das Palmeiras reina até hoje). Em uma das suas postagens, você disse que ficou com medo de como se faria um apresentação para secundaristas numa escola de Ribamar. Mas você consegui se sair bem, oque talvez muitos ali de seus pares e os próprios graduando não conseguiriam.
    É por isso Henrique que agora eu quero ter uma Área de pesquisa voltado para um tempo histórico (talvez as lendas, rsrsrsr), um para teoria da ciência historia, e outra pra a pesquisa na didática da história. Estou até pensando em fazer meu projeto de monografia pensando as lendas ludovicense para o ensino de história em sala de aula.
    De qualquer forma gostei muito do postagem, 1 abraço

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  2. poeta, concordo com tudo, absolutamente tudo o que disseste, reconheço minhas limitações e o curso, não sei como fazer para ser um professor melhor, com uma melhor didática, talvez nãos seja a minha praia, pelo menos tenho tentado, ao meu modo, levar algum tipo de reflexão, mas estais certo, o perfil do curso de fato é de bacharelado. precisamos discutir isso seriamente. o problema é deficiência de formação mesmo, não é má vontade. abraços

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  3. Isso também concordo. Não falo que tenha sido de mal vontade. Falo de como é, e penso que as disciplinas de prática deveria ser pensado nisso .além do mais, é fato que não é obrigado a ser a praia de todos, mas ai eu questiono o curso é de que: licenciatura ou bacharelado
    ? Ai é que digo que com a mudança no conceito do curso as coisas mudam, se temos caracter de bacharelado, sejamos o mesmo... Assim, não foi atoa nossa revindicação. Só estávamos pedindo pra ser oficialmente o que nos eramos na pratica.O que digo é que precisamos ter cuidado com esss cadeiras de Pratica .1abraço. vc é um bom professor, naum v´ficar angustiado com isso. uahsuahsuas

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